Sigilo de fonte é um princípio jurídico que assegura ao jornalista o direito de jamais revelar, a ninguém, a identidade de quem lhe transmitiu determinada informação. É mais do que um direito do jornalista. É também um dever. O jornalista deve à fonte o direito dela de ser preservada anônima. Assim, o sigilo de fonte funciona como uma ferramenta de trabalho do jornalista. Graças a ela e ao seu talento e esforço, ele obtém informações valiosas _e úteis à sociedade. A fonte, quase sempre, confia no jornalista, mas, se essa confiança for quebrada, pode lançar mão do sigilo de fonte. No meio jornalístico, sigilo de fonte é sagrado. Repórter que não o respeita não apenas perde a fonte. Perde também o respeito de seus colegas de profissão.
Apesar de estar garantido na Constituição brasileira, o sigilo de fonte foi seriamente agredido por uma operação da Polícia Federal. Como revelou na Folha de S.Paulo a repórter Lilian Christofoletti, a PF, sob o pretexto de investigar supostos abusos policiais, conseguiu, sem ordem judicial, quebrar o sigilo telefônico de dezenas de aparelhos Nextel usados na madrugada de 8 de julho de 2008, quando foi deflagrada a operação Santiagraha, que culminou com a prisão do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito Celso Pitta e do investidor Naji Nahas.
O objetivo, aparentemente, era descobrir quem na PF passou informações privilegiadas para jornalistas da TV Globo, que registraram as prisões _a alguns locais, a emissora chegou antes da própria polícia; Celso Pitta foi flagrado por suas câmeras de pijama, às 6h da manhã.
Para investigar um abuso, a polícia cometeu outro. Provavelmente, teve acesso não somente aos telefonemas trocados entre jornalistas da Globo e policiais federais, mas também às ligações entre jornalistas da Globo e outras fontes, que nada têm a ver com essa lama.
Muitos condenam esse tipo de jornalismo (principalmente quando o alvo dele são ricos e poderosos). Defendem que cinegrafistas e fotógrafos sejam proibidos de registrar prisões como essas da Santiagraha. Ou seja, a polícia dá o espetáculo, mas a mídia não pode mostrá-lo, como se o espetáculo não fosse informação de primeira. É um erro impor limites ao exercício do jornalismo. É muito menos prejudicial uma imprensa que erra, mas livre, do que uma imprensa amordaçada. É um equívoco ver na competência do jornalismo da Globo na operação Santiagraha uma simples espetacularização da notícia.
Por isso, merecem total repúdio todas as tentativas de cerceamento da liberdade de imprensa. A quebra de sigilo de fonte por parte da Polícia Federal não pode e não deve ser tolerada por uma sociedade democrática.